A adoção de sistemas agrícolas sustentáveis é aspecto central para a consolidação do Brasil como principal fornecedor de alimentos em escala global. Ainda, é fundamental que o aumento na produção de alimentos apresente, com desdobramento, a melhoria nas condições de vida do produtor, em especial, aumento de renda. O Projeto Rural Sustentável – Cerrado tem como objetivo promover a adoção de algumas das tecnologias listadas no Plano ABC. Nesse contexto, é fundamental a avaliação dos resultados econômicos decorrentes da adoção das tecnologias promovidas pelo PRS – Cerrado. Esses resultados fornecerão informações importantes não somente para avaliar a eficácia do PRS – Cerrado – , mas, principalmente, o potencial de transformações sociais e econômicas proporcionadas pela adoção em larga escala das tecnologias do Plano ABC contempladas PRS – Cerrado.
A importância da Avalição Econômica das propriedades rurais
A pesquisa liderada pelo Dr. Julio Reis, da Embrapa Cerrados, tem como objetivo avaliar os resultados econômicos das propriedades que fizeram parte das Unidades Demonstrativas Especiais (UDs) na Fase II do Projeto Rural Sustentável (PRS – II).
Foram avaliadas 19 propriedades nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, nas quais foram gerados relatórios de custo de produção, a demonstração do resultado do exercício (DRE) que complementa a análise de custos com informações sobre a receita obtida e a apuração do lucro; e para o estado de Mato Grosso, foi elaborado 3 relatórios detalhados com análises técnicas e sugestões de melhorias nas propriedades que foram visitadas.
Dentre as tecnologias de recuperação de pastagens degradadas (RPD) e sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), as tecnologias apoiadas pelo PRS-II, o custeio médio anual, isto é, o valor gasto para realizar as atividades produtivas, de ambas as tecnologias foi semelhante, sendo R$ 5.425,11 ha-1 para a RPD e R$5.099,85 ha-1 para o ILPF. Os produtores que utilizaram a RPD apresentaram custeio variando entre R$186,67 ha-1 e R$ 68.299,38 ha-1, enquanto que os produtores que adotaram alguma das diferentes modalidades de sistemas de integração na propriedade tiveram esse valor variando entre R$ 422,78 ha-1 e R$ 10.404,79 ha-1.
Dentre os estados, Mato Grosso foi o que apresentou um custeio médio mais elevado, no valor de R$7.767,79 ha-1, enquanto Mato Grosso do Sul foi o estado que apresentou o menor valor, com R$ 923,58 ha-1. A disparidade de valores entre os estados pode ser explicada tanto pela diferença de custos para manejar a tecnologia avaliada, uma vez que os preços dos insumos tendem a apresentar grande variação regional, como também pode ser decorrente do nível de detalhamento da coleta de dados que foi realizada.
Com uma coleta de dados minuciosa é possível gerar resultados econômicos mais acurados, trazendo informações valiosas ao produtor. Como exemplo, apresentamos informações de duas das propriedades avaliadas em Mato Grosso:
– Propriedade 1: propriedade de gado de corte com 30 ha, com rotação de pastagem, e um custeio anual de R$ 10.404,79 ha-1, dos quais 21% é devido à alimentação/suplementação dos animais. A visita à fazenda foi realizada em dezembro de 2022 e os resultados consideram as atividades para a safra 20/21. Do custo total da atividade, 74% é gasto com a aquisição de animais, uma vez que essa propriedade adota o sistema de recria de bezerros até a fase de garrote ou boi magro. Considerando o impacto negativo de variação de preços na lucratividade, um ponto de possível intervenção seria aumentar o ganho de peso médio (GMD), resultado que seria mais factível para as fêmeas, que apresentaram menor ganho médio diário. Ajustes no manejo de pastagens e na alimentação animal, aspectos contemplados pelo PRS II, que levassem ao aumento de 15% no GMD das fêmeas, aumentaria a lucratividade da propriedade em 39%.
– Propriedade 2: propriedade leiteira com 29 ha de pastagem e um custeio de R$ 1.563,85 ha-1. Deste, 72% é gasto com alimentação e suplementação dos animais. A visita à fazenda foi realizada em fevereiro de 2023 e os resultados consideram as atividades para a safra 21/22. Nossa análise destacou o baixo investimento em pastagem e elevado gasto com depreciação de maquinários: 57% do custo operacional efetivo, indicando uma possível falta de manutenção da infraestrutura produtiva em anos anteriores. Apesar disso, esse produtor apresentou um lucro líquido de R$ 2.328,07 ha-1 mostrando que ele apresenta capacidade econômica tanto para arcar com as despesas de curto prazo associadas diretamente à produção, quanto pata realizar investimentos e aumentar sua capacidade produtiva. Seu rebanho, porém, apresenta uma baixa taxa de vacas em lactação (38,9%) quando comparados com rebanhos de alto potencial (75%), bem como uma baixa produção de leite (5,11 litros/vaca/dia). Se o produtor conseguisse aumentar a produção de leite, equiparando com a média nacional de 8 litros/vaca/dia, o lucro da propriedade aumentaria em 53%. Para isso, se faz necessário ajustar o ambiente de produção e o manejo com a alimentação dos animais.
Informações econômicas que sigam uma metodologia robusta são relevantes não somente para os produtores, mas também para os formuladores de políticas públicas. Um exemplo é a comparação dos resultados econômicos de propriedades que adotam e que não adotam as tecnologias listadas no Plano ABC +. Informações dessa natureza são fundamentais para a definição de políticas de crédito e para políticas de apoio à comercialização.
Dessa forma, as atividades e resultados alcançados no projeto são importantes pontos de partida para uma iniciativa de avaliação sistemática dos resultados econômicos das propriedades rurais no Brasil. Informações a nível de propriedade, como a que foi preconizada neste projeto, não estão facilmente disponibilizadas e permitem gerar resultados estratégicos que podem ser de grande auxílio na tomada de decisão do produtor.