“A pesquisa quando bem articulada pode produzir resultados palpáveis para a sociedade e, ao mesmo tempo, contribuir com o avanço científico e com a inovação sustentável.”
O projeto teve como objetivo principal identificar os fatores que comprometiam a sustentabilidade e a eficiência produtiva. Além do mapeamento, com o projeto se pretendeu desenvolver e disseminar tecnologias e práticas que permitiram o melhoramento da produtividade leiteira, a agregação de valor, a ampliação do nível de renda e a mitigação dos passivos ambientais e sociais envolvidos na atividade. Os métodos e técnicas incluíram pesquisa de campo, análise de dados, planos de ação, visitas técnicas, coleta de material para testagem por sorologia para diagnóstico laboratorial de doenças infecciosas, treinamento e capacitação dos produtores rurais, demonstração de técnicas produtivas, sanitárias e de nutrição dos animais, manejo adequado da pastagem e de todas as operações envolvidas na atividade, incluindo práticas de gestão dos recursos da propriedade, e desenvolvimento de embalagens sustentáveis para melhor conservação dos produtos da agricultura familiar. O projeto foi executado por uma equipe multidisciplinar da Universidade Federal de Mato Grosso, com toda a sua estrutura de pesquisa e extensão, e os parceiros colaboradores externos, IFMT, EMPAER e UNIVAG, que foram organizados em cinco equipes integradas e sinérgicas para alcance dos objetivos e das metas do projeto, que tinham como propósito aumentar a produtividade e rentabilidade da atividade aliada à responsabilidade social e ambiental da produção rural cada vez mais consciente e integrada com o meio ambiente.
A unidade produtiva contemplada foi a Cooperativa dos agricultores familiares do Assentamento Santo Antônio da Fartura (Coopersaf), localizado a 100km de Cuiabá/MT. A partir da disseminação do conhecimento e das orientações básicas necessárias, os produtores atendidos conseguiram reduzir as multas por contaminação bacteriana e os descontos recebidos devido à contaminação do leite por mastite. Foram realizados treinamentos com os produtores para identificação da mastite desde a fase inicial e todo o material e reagentes foram doados para continuidade dos testes. Materiais instrucionais foram produzidos a fim de esclarecer e perpetuar o conhecimento adquirido quanto ao manejo do rebanho e boas práticas na ordenha.
Uma contribuição nutricional significativa foram os testes laboratoriais bromatológicos realizados com a ração oferecida pelos produtores ao rebanho. Identificou-se que o nível de proteína da ração de algumas propriedades estava abaixo do valor afirmado pelo fabricante. Verificaram-se amostras com nível de proteína entre 13 e 17% enquanto o valor de referência era de 25%. Outras orientações foram com relação à quantidade de ração adequada, a desmistificação da qualidade do trato com fontes alternativas de alimentos, o condicionamento correto dos alimentos, a recuperação das pastagens degradadas e estratégias para atravessar o período da seca sem grande perda de peso pelo rebanho.
Figuras: 1. Treinamento para identificação de mastite; 2. Orientações para nutrição animal na seca e recuperação da pastagem; 3. Silagem produzida pelo produtor de leite com orientação dos zootecnistas.
Os produtores também foram esclarecidos sobre a reprodução animal, um fator de alta relevância que determina o melhoramento genético, o aumento da produtividade e o controle sobre reprodução indesejada, uma vez que não há interesse em bezerros machos aos produtores de leite. O controle sobre os períodos de reprodução também assegura maior produtividade e a escala correta entre o rebanho assegura uniformidade de produção de leite ao longo do ano, com especial atenção para a redução de partos na época da seca, bastante severa no estado de Mato Grosso.
Com as orientações a respeito do tratamento correto das doenças do rebanho, da alimentação adequada e da organização da estrutura e do manejo, os ganhos dos produtores se tornaram mais elevados e mais constantes. A colaboração da equipe de Engenharia Florestal (EF) para a adequação das propriedades coloca os produtores no caminho da responsabilidade ambiental, da legalidade e colabora sobremaneira para a obtenção do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que as propriedades atendidas ainda não possuem. A posse do CAR vai proporcionar regularização da propriedade e mais oportunidades aos produtores, especialmente quanto ao acesso ao crédito rural. A fim de contribuir para a fixação da educação ambiental a equipe da EF coordenou a construção de duas unidades demonstrativas do sistema silvipastoril, com um hectare cada. Uma das unidades demonstrativas foi construída em uma das propriedades do Assentamento, que reunia as condições técnicas necessárias, e a outra foi montada no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), Campus de São Vicente, que se localiza a 6 km do assentamento.
Figuras: 1. Construção da unidade demonstrativa silvipastoril; 2 e 3. Levantamento dos problemas ambientais de duas propriedades assistidas.
Na unidade do IFMT foi conduzido um experimento em delineamento casualizado a partir de três tratamentos, clones de eucalipto: VM01, I144 e H-13 e duas repetições (parcelas). A partir das observações e medições, foi possível concluir que as mudas se desenvolveram adequadamente e não apresentaram limitação no desenvolvimento foliar, exceto um desenvolvimento inicial lento. Como resultado, identificou-se que o clone C1 (VM01) se sobressaiu em altura independente da data de avaliação entre os três genótipos, sendo observada diferença significativamente estatística entre os demais tratamentos. Portanto, constatou-se que esse clone é mais adequado para a região, e serve como referência para a construção de unidades silvipastoris nas propriedades rurais vizinhas. Quanto ao capim, em ambas as unidades, a proposta foi preservar a pastagem já existente, Brachiaria Brizantha, com a devida correção do solo. Com a apresentação das unidades pretendeu-se contribuir para a conscientização dos produtores de leite quanto à preservação ambiental, bem-estar animal e maior produtividade associada.
Nas unidades demonstrativas também foram implantadas espécies nativas voltadas para o extrativismo, cumbaru e pequi, que podem servir como uma segunda fonte de renda aos pequenos produtores. A fim de permitir maior conservação dos frutos com alto teor lipídico foram estabelecidos objetivos específicos a fim de testar novas metodologias e novos ingredientes para a criação de embalagens sustentáveis e para o desenvolvimento de revestimentos antioxidantes a fim de retardar reações de oxidação lipídica dos produtos embalados. Quatro experimentos foram conduzidos pela equipe da Química e da Ciência e Tecnologia de Alimentos para criação de embalagens eficientes na conservação dos frutos e de filmes biodegradáveis a partir de diferentes polímeros.
Como exemplo, um dos estudos avaliou as propriedades físicas, de barreira, ópticas e mecânicas de filmes biodegradáveis comestíveis produzidos com os biopolímeros carboximetilcelulose (CMC) e gelatina, com a adição dos antioxidantes acetato de tocoferol, mix de tocoferol e ácido etilenodiaminotetracético (EDTA). Cada antioxidante foi considerado como um tratamento, obtendo-se seis formulações de soluções filmogênicas que, após a secagem por fundição, deram origem a filmes biodegradáveis comestíveis; por meio da análise de biodegradabilidade, observou-se que todos os filmes se degradaram em menos de 30 dias. Antioxidantes como acetato de tocoferol, mistura de tocoferol e EDTA influenciaram significativamente as propriedades do filme. O acetato de tocoferol apresentou desafios para atingir a homogeneidade. Filmes com uma mistura de tocoferol (0,75% em peso) e CMC (1% em peso)-TM são adequados para revestimentos solúveis, embora não tenham resistência mecânica. Esse problema pode ser resolvido com a adição de nanocompostos comestíveis, oferecendo sustentabilidade em comparação aos plásticos derivados do petróleo. Filmes com EDTA demonstraram propriedades ópticas superiores, beneficiando as sementes oleaginosas ao reduzir os processos oxidativos por meio de proteção aprimorada contra a radiação ultravioleta.
De modo particular, a equipe de desenvolvimento de embalagens sustentáveis apresentou as inovações planejadas para o projeto e gerou novos conhecimentos científicos que colaboram com o avanço das pesquisas na área e contribui com a atividade produtiva rural extrativista, que pode ser uma segunda fonte de renda dos produtores de leite a partir do consórcio proposto no sistema silvipastoril. De forma articulada, as cinco equipes atingiram os objetivos do projeto e asseguraram a transferência de tecnologia, assim como cumpriram com a produção de pesquisas laboratoriais voltadas para a inovação sustentável.